Caso de racismo na Zara expõe urgência de empresas em preparem seus líderes de equipe para conduta anti racista
Após uma denúncia de racismo na loja de departamento Zara, em Fortaleza, um código secreto foi descoberto pela Polícia Civil do Ceará. A orientação do código era para que funcionários ficassem atentos às pessoas negras ou com roupas “simples” dentro do estabelecimento no Shopping Iguatemi.
A divulgação da perseguição aos clientes, infelizmente comum na rotina de pessoas negras, tornou-se ainda mais alarmante pelo modo sistematizado em que é executada.
O caso tornou- se um verdadeiro pesadelo para a marca espanhola e pode deixar danos, talvez, irreversíveis para a empresa, principalmente no Brasil, onde tem 56 lojas convencionais e 15 de artigos para casa.
A empresa divulgou um comunicado em que nega a existência de um código racista para discriminação de clientes e afirmando valorizar a diversidade e o respeito. De acordo com a especialista em relações públicas Valentina Saluz, esta é uma resposta padrão de uma marca, mas que não tira nenhuma responsabilidade do ocorrido: ‘’A responsabilidade da empresa é a falta de investimento para treinamentos de conduta anti racista, falta de investigação em outros casos, afinal em uma busca rápida na internet é possível ver diversos outros casos. Em Outubro de 2019 uma mãe relatou racismo com seu filho de 17 anos na Zara do Ibirapuera. Em Janeiro de 2020, duas mulheres trans, Alina e Jade denunciaram transfobia e racismo trabalhando na Zara. Aliás, em 2020 houveram muitas denúncias, muitas. Por que depois de todas essas denúncias a Zara ainda não trabalha políticas internas? Porque não exigem conduta anti racista de seus colaboradores. Esse tipo de conduta pode quebrar empresas, seja de qual tamanho for, não há mais espaço para racismo” disse Valentina.
Para o empresário Bruno Bueno, CEO da Ozora Soluções de tecnologia, como homem negro e líder, essas situações que acabam manchando nomes de empresas tão renomadas é uma resistência de gerações passadas em se adaptarem ao mundo atual, onde a diversidade é uma urgência: ‘’Eu já passei por diversas situações parecidas e quis usar isso como aprendizado, por isso hoje invisto em criar um ambiente saudável na minha empresa e é justamente isso que falta nessas empresas que frequentemente são ligadas a casos de racismo. São empresas geralmente dirigidas por pessoas extremamente conservadoras e que resistem ao novo momento em que quem promove a segregação da população e a discriminação vai sofrer consequências sociais e correr o risco de ter a reputação manchada para sempre. Talvez algumas empresas internacionais não tenham conhecimento suficiente de como isso funciona no Brasil, mas elas precisam enxergar urgentemente isso, ou perderão cada vez mais prestígio e valor de mercado’’, disse o empresário.
Ainda sobre a Zara, Entidades do movimento negro ingressaram na Justiça do Ceará contra a rede de lojas Zara, pedindo R$ 40 milhões de indenização por dano moral coletivo de acordo com informações do Uol.